Mais que os desenhos animados da Walt Disney que eu venerava, e continuo a venerar embora com uma magia diferente, os filmes portugueses das décadas de 30/40 enchiam-me a alma nos meus tempos de infância. Ainda hoje recordo grande parte das falas de filmes como a "Canção de Lisboa", "O Pai Tirano" ou o "Pátio das Cantigas".
No entanto um outro filme destacava-se no meio de tantos, talvez por ter sido o primeiro a ver, talvez pela excelente performance de António Silva. Trata-se de "O Leão da Estrela" (1947), uma das mais divertidas comédias portuguesas, realizada por Arthur Duarte.
Entre amores e mentiras, António Silva, Milú, Curado Ribeiro, Maria Eugénia, Laura Alves e Artur Agostinho juntam-se para reproduzir a história de Anastácio da Silva, Sportinguista ferrenho, e sua família. Esta família vai ao Porto para Anastácio assistir ao grade desafio "Porto - Sporting" e instalam-se em casa dos Barata, fazendo-os acreditar que são uma abastada família. As mentiras tornam-se um problema quando é feito o anúncio do casamento de Branquinha (filha de Anastácio) com Eduardo (filho dos Barata), levando a família Barata a Lisboa e pondo a descoberto a vida "pelintra" desta família. No entanto, com uma nova leva de mentiras e artimanhas, e com a ajuda de Eduardo, tudo corre bem e o casamento é um sucesso.
Como vestígio destes tempos, destas filmagens e de muita história, é possível ver ainda o edifício da família Silva, o número 21 da íngreme Travessa da Oliveira à Estrela (em Lisboa), coberto por azulejos azuis e brancos. Embora num cenário bem diferente do apresentado no filme, dado o avançado estado de degradação, é possível rever aqui a saudade que nos deixa a maioria dos actores que há 62 anos atrás realizavam "O Leão da Estrela". O edifício vai ser restaurado e com ele permanecerá a memória deste irresistível filme, até por quanto tempo houver quem o veja e reveja.
