terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que os outros" (George Orwell)

Um amigo perguntou-me há uns dias, após a fabulosa notícia da Câmara Municipal de Viana do Castelo ter posto fim às touradas na região, se eu não achava que seria mais cruel existirem vacas a sofrer durante toda uma vida, sempre presas nos seus currais, todas postas em série onde só passa comida e água e sem que as deixem andar para engordarem mais rápido, do que demorar 20 minutos a morrer na arena. Se não será mais digno morrer a lutar pela vida numa tourada do que levar um choque e ser aberta ainda viva e começar a ser desmanchada ainda bate o coração?

É igualmente cruel, sim senhor. Mas não acho nada digno, nem para o touro nem para o toureiro, morrer a lutar. É o homem que quer lutar para se demonstrar superior ao touro porque é assim que a maioria dos seres humanos se sentem...superiores. Não é o touro que quer lutar. Não é o touro que é fraco ao ponto de lutar com ferramentas e ainda lhe tiram a vantagem dos cornos afiados (no caso das garraiadas). Isto não é digno.

A superioridade, neste caso de espécies, é para mim um termo a rever e a ter muito cuidado. Se nos considerarmos superiores apenas por domesticarmos os animais e os utilizarmos em nosso benefício...tão depressa domesticamos e somos inteligentes como nos apanhamos desprevenidos em determinada situação e "puff"... vem o "animal" e come-nos. Não somos superiores, apenas evoluímos em outro sentido, ganhámos esta inteligência e raciocínio (em alguns casos), o que nos permitiu adquirir novas estratégias de sobrevivência, como a de domesticar animais a fim de facilitar a nossa vida. Mas não somos donos de nenhuma espécie e devemos respeitá-las a todas.
Se somos omnívoros é porque, tendo em conta os recursos existentes, evoluímos nesse sentido para sobreviver. Essa é a natureza, matar para comer, não matar por diversão.

Mas se é verdade que somos então superiores, devíamos ter a capacidade de usar essa dita superioridade, neste caso inteligência e raciocínio avançados, para tornar o mundo um local melhor, sem nos divertirmos com o sofrimento dos restantes seres. Porque no fundo a tourada (falo em tourada, mas podia falar em luta de galos ou de cães, ou na morte para usar as peles por pura vaidade), por trás de uma cortina de tradição, vai seguindo e deixando viver atitudes e mentalidades que o tal "ser superior" julga não ter ... a verdade é que o holocausto existiu, darfur existe, and so on... E no entanto nós, os civilizados que apontam o dedo aos talibãs e terroristas, esquecemo-nos dos terrorismos que diariamente cometemos neste caso em concreto e em outros tantos, o que me leva realmente a repensar o termo "superior".

Se se mantivessem sempre as tradições ainda hoje poderíamos sacrificar seres humanos (poderiam ser nossos filhos ou mesmo nós) para que os deuses não nos castigassem. Em suma, o que devemos ou não fazer não sei, não sou um suprasumo da ética e moral, mas devíamos ter um bocadinho mais de abertura de mente e deixar de nos refugiarmos em tradições e clichés e repensar o que no senso comum de um menino é uma atrocidade.

"Virá o dia em que a matança de um animal será considerado crime tanto quanto o assassinato de um homem" (Leonardo DaVinci).

Vive e deixa viver!

3 comentários:

I. disse...

Determinadas tradições devem acabar (a do natal não - a parvoíce sempre ao de cima), mas as tradições relacionadas com atrocidades sim, mas antes de acabá-las de um momento para o outro, é essencial e necessário que passe por uma educação, impor algo por uso de poder nunca deu bom resultado. Não será o método mais rápido, mas certamente o mais eficaz, há que educar desde já as crianças, mas educá-las bem, não fazer o que se faz actualmente, que é deixar a "educação" para os professores, e quando a criança chega a casa ainda a "deseducamos", devemos educar como pais, primos, irmãos, tios, etc, juntamente com a sociedade, sociedade esta que de momento ainda não está apta, mas que com o tempo, determinação, e optimismo irá estar. Mais uma vez, não nos podemos simplesmente resignar...!

Nemesk disse...

Um aplauso.

Inês Fernandes disse...

Concordo plenamente com essa fase de educação. Pena que só seja aplicável às crianças, pois os pais e familiares que seguem e apoiam estas tradições perturbantes já têm uma ideia "entranhada" imutável. Com um esforço de quem acredita, espero com todas as minhas forças que as futuras gerações cresçam com os olhos abertos para a vida natural, sem o espírito corrompido pela estupidez humana.